Conselho para raposas (e pessoas)
Conselho para raposas (e pessoas)
Os poetas, minha cara raposa, são a desgraça do mundo!
São a desgraça mais engraçada que já existiu na face da existência.
Andarilhos sem rumo nem chão que se agarram às palavras.
Aranhas que as juntam com suas teias de tinta, e logo pulam
para outra, e outra, e outra. A outra teia, a da vida é a única que termina.
Minha cara raposa, afaste-se dos poetas. Eles te cativam e saem logo a pular por outros mundos.
Dizem que isso é necessário para sobreviver como poetas, que é o destino e coisa e tal.
Coisa e tal, tal como dizem as coisas mais emocionantes, lindas, fascinantes.
Os poetas são cegos, e como cegos, são surdos, e como surdos, mudos.
Tateiam a escuridão total do mundo, arrancam as mais belas flores, mas não tem sensibilidade nenhuma.
A sensibilidade do poeta é tão grande que ele escreve sobre o verme, a flor, a rosa, o mundo, o tudo e o nada, o alfa e o ômega...e mata a todos
em um verso torto.
A sensibilidade do poeta é tão pobre que ele só se dá conta disso quando a mão da vida estapeia-lhe a cara.
Minha cara raposa, vá para sua toca, corra, viva, seja cativada e ame, mas fuja dos poetas.
Se não puder fugir de jeito nenhum dos poetas nem desistir deles, torne-se um e acompanhe sua viagem sem rumo, sentido e direção, minha cara raposa. Os poetas de verdade não são os dos versos, são os da vida. Fuja de todos, seja uma boa raposa.