Meio Século

A velha casa, sombra e resquícios de antigos pomares.
Contas vencidas, arranjos tubulares;
algumas mortes, silêncios tumulares.
Telescópios e inúteis buscas estrelares,
sonhos de deuses. Seres dos ares.

Sonhos de circos. Lantejoulas e malabares,
sonhos de Ufos, quando ainda nem se falava nos Quasares.
Sonhos de Olimpo, de Ambrosia e doutros manjares.
Sonhos de solidão. De longínquos mares.
Sonhos de normalidade. De outros lares.

Sonhos de infância. A magia dos magiares.

Alguns amores, alguns jogos. Tantos azares.
Tantos impares e tão poucos pares.
Velhos filmes, velhas gares.
Alguns porres em tantos bares.
Tanta faxina, meu Deus. Frios azuis, quase polares.

Realidades de adolescência. Cotidianos esgares.

Tanto Marx, tanto Drumonnd, tantas Minas e alguns Calabares.
Toscas rimas, versos circulares.
Desilusões, realidades imperiosas, certos pesares.
No fim, a soma de frágeis alegrias, menos alguns penares.
Máscaras e gravatas que condenam a sempre estares.

Condenação de adulto: como Ahsvareus, sempre caminhares.

A força das pernas se foi, mas ainda existem alguns andares. 
Passos irregulares nesses dias singulares.
Tempo em que todos os desejos são vulgares  

E foi assim que meio século passou.