TEMPO ESGOTADO


E a alma vaga pelos labirintos dos dias
Tentando desenredar-se das teias do fado,
Aranha que tece o presente com fios do passado.

Cirros-estratos turvam a paisagem futura.
Os fios vindouros não se divisam.
Nem as arapucas...
E a vida pode acabar a qualquer tempo.

A porcelana que trinca,
O leite que se derrama na fervura,
A água que excede a borda do copo.

Tempo esgotado.

Vida que perde o sopro
E que a si mesmo sopra
E vira pó.

Há os que se derrotam, 
Os que escapam de sua sombra,
Os que hesitam,
Os que fiam suas mesmices... 
Neles, a esperança é madrasta,
Maltrata, malaxa.

Renunciar (-se),
Largar vontades e planos e sonhos,
Despir a camuflagem de luta,
Vestir a negra mortalha...
Largar a vida
E bater em retirada. 

Um ser fugidio num episódio fugaz.
Sento-me e escuto-me (-te),
Pergunto-me (-te):
Pra que serve uma adaga fora do peito?

Tempo esgotado.




"Pra que serve uma adaga fora do peito?",  indagação no conto "Os objetos", de Lygia F. Telles.
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 25/12/2006
Reeditado em 30/10/2013
Código do texto: T327422
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