Poema EsCaLaDo
Poema EsCaLaDo
Ao sopé da folha em branco
esmaeci ao vislumbrar teus mistérios, poesia...
como quem fantasia o real que estremece.
Mas segui. Disse a mim mesma: segue, passo calmo,
que a diante, algum significante ficará sem significado...
E prevendo já o imprevisto escalei duas léguas/estrofes
como quem não sabe o norte, em noite sem cruzeiro do sul.
O convite à poesia é imprevisível, e vige em mim qual sol nascente :
como, pois, negar-lhe os raios solventes do orvalho?
como, pois, tampar Poesia com peneira matreira da hipocrisia?
E pensando assim o impossível de mim, escalei já quatro léguas/estrofes
como quem não sabe o norte, em noite sem cruzeiro do sul.
Quase sucumbi ao ter visões facínoras, entre mim e a Poesia.
Invoquei as Musas e as Graças, devo ter invocado erradamente,
pois esta noite meu único abrigo foi uma caverna onde deixei o corpo sangrar.
E lembrando assim a noite tempestuosa, escalei já seis léguas/estrofes
como quem não sabe o norte, em noite sem cruzeiro do sul.
Amanheceu, percebi o sangue seco na pedra, e descobri que sobrevivi.
As musas devem ter estado ali, sim. Então uma fada cantarolou da luz
que vinha de fora da caverna:
- vem que já passa da hora, vem escalar sua história!
E acordando assim já escalei oito léguas/estrofes
como quem não sabe o norte, em noite sem cruzeiro do sul.
E aceitei o convite mais uma vez, segui caminho outrora distante.
Paisagens nativas, outras nonsenses,
besouros, morcegos, borboletas em flores...
um tigre, um lobo, e algumas serpentes,
Nada me detia ou constrangia, nem a visão do mundo recorrente.
E subindo assim escalei dez léguas/estrofes
como a quem não importa a falta de norte em noite sem cruzeiro do sul,
como quem é água corrente, mas coerente. E como tal desci a montanha,
em gotas de chuva, e subi novamente, em vapor...
até bem acima daquela montanha inicial, escalada em onze léguas/estrofes.
By Tânia Barros
(proibida a cópia /reprodução em qualquer meio.)