A MULHER ABANDONADA
Não se refaz o lábio da mulher abandonada
Com batom ou prece
Não se satisfaz o peito da mulher abandonada
Com valsa ou colar
A mulher abandonada
Caminha na Champs-Élysées
Como um rato caminha
No esgoto de Sumaré.
Não há beleza
Não há leveza
Não há Condessa
Nos pés da mulher abandonada.
Seu perfume não encharca nenhum salão
Sua sombra não marca nenhum chão.
A mulher abandonada
Não seduz
Não reluz
Seu braço não conduz
Nenhuma dança.
Não há beijo que se anuncia
Na boca da mulher abandonada
Não há laço que aprisiona
No colo da mulher abandonada.
Não há mandinga na lágrima
Da mulher abandonada.
Não há entrelinha na palavra
Da mulher abandonada.
Não há mulher escondida
Na alma da mulher abandonada.