TRÊS RETRATOS
TRÊS RETRATOS
(para Guido Heleno)
I
Não estão vazias nem a tua praia
e nem a tua gaiola.
E as pegadas se multiplicam
e se confundem com os próprios grãos,
que não são de areia, mas de um
precioso alimento:
o milho das palavras que te habitam por dentro.
Os mesmos grãos que alimentam os teus pássaros-poema,
que chegam em revoada e cobrem o céu por inteiro.
E a gaiola continuará, para sempre, de portas abertas,
num eterno convite.
Pássaros que entram, pássaros que saem.
E as pegadas na areia o vento varrerá.
Novos passos se desenharão, para sempre
testemunhas
da gaiola que nunca
se esvazia, que nunca se enche.
Mas sempre transborda.
II
Há uma gaiola numa praia...
E milhares de pegadas na areia...
E uma imensa revoada de pássaros
elevando o seu canto
e cobrindo com seu manto
a solidão da lua cheia...
III
Poetas são como pássaros numa praia,
hoje plena, antes deserta,
onde há sempre uma gaiola,
com uma porta eternamente aberta.
(José de Castro)
Poema inspirado numa crônica do meu amigo poeta e escritor Guido Heleno, de Brasília, o qual, por sua vez, inspirou sua crônica num verso de JACQUES PRÉVERT, no seu poema PARA FAZER O RETRATO DE UM PÁSSARO: “Pinta primeiro uma gaiola/com a porta aberta/pinta a seguir/qualquer coisa bonita/qualquer coisa simples/qualquer coisa bela/qualquer coisa útil/para o pássaro” ... E meu amigo Guido Heleno, então, em sua crônica, diz que vai pintar uma praia para atrair os amigos e nela colocar uma gaiola para atrair os pássaros... Uma bonita crônica...