O MURO E O PASSO
teus olhos de declaração
terão pouca visão
assim como quem come quase sempre guarda
mágoas d’um amor visto do chão
[olhos, mais do que gente, são cidadãos]
desalumiado,
a catar sóis pelo rabo do clarão:
vão-se janelas e achados...
[vãos]
teus medos por procuração
terão pouca permissão
de misturar dedos dos pés com os das mãos
assim como – em riste – ap(r)onta um caos pro coração
[dedos, mais do que gente, são cidadãos]
desentocado,
a catar anéis para outras mãos:
vão-se a sós, sem pedidos..
[vãos]
teus sonhos – com alguma razão –
terão sonos de paixão
enquanto, entre cobertas, não vier a tua estação
de encontro dos olhares compridos com os dedos longuíssimos
[e um porre]
de choques térmicos,
certo de que o amor não exige nem fogos e nem artifícios
descontínuos
a catar as lentes graúdas dos olhos pagos
a perder de vista
[vãs]
amores cegos não são míopes!