FORNINHO DE PROSA E POESIA
Fantasio que imaginação é reação química.
Elos de moléculas que vão se ajuntando,
desmanchando umas palavras concretas,
construindo outras, díspares, tortas,
desencontradas a uma primeira vista
de quem não põe os olhos além da coisa.
Porque imaginação só vira arte
quando sai do seu habitat.
Ponho olho como cimento,
o coração entra pulsando em jorros feito água
e grossa como areia, a razão tentando amálgama.
Tem hora que dá uma massa amorfa
tem hora que dá boa prosa.
Imagino uma outra química para alimento.
Aí, tiro leite das pedras.
Uso os mesmos ferramentais humanos.
O olho entra como o grão de uma farinha qualquer.
A razão a procurar víscido que dê liga,
já sem a fricção de areia .
Sensível como ovos, o coração tudo fermenta.
Ajeito formalmente no forninho da concepção
E depois de um tempinho em estado de supinação
Provo o gosto com alma faminta
Pra ver se o resultado foi poesia.