OS DEDOS E AS MÃOS

tocaram-se por bem,

ásperas

afagaram-se

até vermelhas ficarem

aos apelos dos dedos,

envergonhados, qual os dos corações

pela troca dos toques de mãos...

jamais entrelaçaria-me em dedos tão mornos,

cheios de sutilezas, surpresas e suavidades,

se a minha emoção, definitiva, estivesse imprópria ao amor.

Nessa troca de mãos,

inevitável será, por mais que o ciúme desgoste,

a comparação

de quando, até fomos, tocados sem nos sentirmos amados:

haviam dedos frios,

indiferentes aos calos,

sem cheiro de tangerina descascada;

haviam dedos lisos,

igual à pele das cobras:

escorregadias, sem febre ou suor!...

Os acomodei

até abandonar, em um cinzeiro qualquer,

uma aliança invisível que quase anulou a probabilidade de gostar

de preparar uma salada com alface, tomate e cebolas, sem chorar.

E para na sobremesa: tangerinas descascadas!

Os abandonou

até descobrir todos os carinhos, teus, guardados

em coloridos bichos de pelúcia, na confidencia das unhas azuladas

pelas canetas que borraram o diário amadurecido, sem estar escrito

no tom cor-de-rosa e jovem do ato consumado!

Vamos trocar de par?

Lerei as tuas confissões no diário seguinte

do teu olhar que sabe, de cor, o gosto do meu anular;

enquanto meu indicador desenha, traço a traço, o cor do teu rosto.

Vamos trocar de mãos definitivamente?

Acarinharás gota a gota o arco-íris da sétima lágrima sob a pele,

enquanto, suave, te baterei na bundinha a cada teu mal-feito.

E viveremos de mãos unidas ou espalmadas,

do primeiro beijo até o último espasmo,

sem fazermos mal aos dedos.