O ÚLTIMO DIA DO SÉCULO VINTE
olha a manhã apressada,
acalma
a pisada dos pés de quem por ela passou;
preciso correr atrás do amor de ontem
sem acidentar a fiel madrugada.
olha o dia correndo apressado,
ajuizado
o sol sabe coroar miolos bem fritinhos;
almoço como quem janta ao teu lado
sem nenhuma pressa de talheres.
Empresta-me teus olhos?
Preciso assistir teus pontos de vista!
Zequinha saiu da escola
assaltou um carro no sinal
... e mais ninguém o viu!
Joana, jovem recém-casada,
sem mala, desapareceu de casa,
... e desandou os pés na estrada!
Joaquim, setenta anos, aposentado,
comprou um celular, falou com um amigo
... e foi noticiado num obituário de jornal!
preciso correr atrás de amor de ontem,
pois o dia,
velho ou moço,
jovem ou adulto,
nasce para perder
até os primeiros raios
e adia a urgência
dos fins de tarde:
quando, palpável, o amor torna-se sólido!
Juntos, em um vago dia trinta e um,
jantamos-nos, amamos-nos, dormimos-nos
fazendo arte ao mais profundo de todos os silêncios.
Precisamos dormir muito, muito e muito...
até acordarmos bem tarde para o dia que mal começou!