FRANGO DE PADARIA
Passava todos os dias
em frente à padaria,
babava-me ao vê-la tostadinha
abatida, mortinha e exposta
a imóvel avezinha.
Passava todos os dias
em frente à padaria,
incomodava-me vê-la mortinha
naquela estranha posição
de avezinha imóvel.
Até as pedras têm cheiro
quando tropeçam nos pés dos amantes,
aí, toparemos na sensação dos namorados
e com a fome que ronca incontrolável
no coração do estômago
a avezinha na padaria
nos flerta. Cheira!
O salário de mês acabou
sem nunca ter perguntado
o quão barato custava
o franguinho da padaria.
Envergonhada, a namorada esfomeada,
tonta e atordoada com o carinho das pedras,
preparou um arroz soltinho e uma farofa amanteigada
e pediu-me para que comprasse aquele frango baratinho.
O franguinho da padaria vestiu nosso amor cheio de fome
e acomodou-se, quentinho, no coração e no estômago
até deixar leso o sono e nossos corpos juntinhos.
No dia seguinte, em frente à padaria,
não senti mais o cheiro da avezinha imóvel!