Dois Contos de uma Cidade
Sensibilidade facial,
Frieza do orvalho,
Olhos abertos,
Nuvens brancas.
Som uniforme das águas que passam,
Súbito levantar,
Ruas frenéticas do rio,
Chuva caindo constante.
Passos curtos pela rua,
Velho cobertor sobre os ombros,
Nariz afagado,
Cair de uma noite sombria.
Mudança imprecisa dos passos,
Vazio permanente do estômago,
Abrigo constante da rua,
Desejo involúvel e impossível.
Ajuda dos anjos da noite,
Caridade pulsante no peito,
Alegria furtiva dos olhos;
Alimento, agrado e respeito.
Bondade dos homens divinos,
Palavras brotando do peito,
Ouvindo em respeito,
Dúvida na certeza dos outros.
Inefável desejo de vitória,
Congruente necessidade de cultura,
Revoltosa falta de humanidade,
Indícios de forte amargura.
Avenida brilhando constante,
Faróis invasivos dos carros,
Garoa insistente da madrugada,
Olhos céticos na entre-vontade.
Pessoas que não permanecem quietas,
Mãos sofridas no ombro,
Olhos ferindo seus olhos,
Um afago no leito,
Cabeça suja sobre o peito,
Um doce-amargo beijo.
Passar triste-contente dos dias,
Caminhos preciso de todas as horas,
Despontar constante dos meses,
Mais um à triste aurora.
Pneus jogados no lixo,
Tábuas semi-novas na praça,
Arames recriminados da obra,
Um carro improvisado.
Vagando constantemente na rua,
Futucando latas cheias de lixo,
Latas velhas amassadas na hora,
Papelão rasgado juntado à quilo,
Ação repetida por horas.
Carro pesado arrastado por dias,
Recompensa mísera em poucos trocados,
Caminho de volta ao abrigo,
Alimento humilde do filho.
Solidão inefável no peito,
Passar corrente das horas,
Frio constante na pele.
O raiar de uma nova aurora.
Agora, frase por frase, leia o poema ao contrário. terá uma outra história.
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