POEMA LONGO: CANTO V - RIOS SIMULTÂNEOS, QUASE PARALELOS...

CANTO IV:

RIOS SIMULTÂNEOS, QUASE PARALELOS...

Tem horas que é tanta água, que pelos caminhos rolam,

que transbordam, pelas bordas, do caminho...

E inundam estas águas, terras secas e sem vida!

Estas águas repartidas levam consigo

um pouco da terra recém surgida, encontrando outras águas...

São rios simultâneos, quase paralelos...

Que existem quase sem saber, do outro em vida!

EDVALDO ROSA

22/12/2009

Aquele lugar tão asséptico,

lugar tão branco, silenciosamente quieto,

guardava dentro de si, tanta dor, quanto esperanças...

O pai trazia consigo a lembrança do filho,

Que ainda nem tinha mamado do seio,

daquela que o guardara tanto no ventre,

que quase arrebentará, para a passagem do rebento,

que dormia um coma profundo e estranho!

Quanto não quis ter este menino,

aninhá-lo nos braços pequenos?

Quanto já não o tinha amado e querido,

quanto não o tinha sonhado e desejado?

Naquele lugar sem cor, sem gosto, sem cheiro,

os olhos negros, vivos, estavam fechados...

O coma comia dela os dias inteiros...

E o menino já quase que estava desmamado!

Que sina esta, desta vida passageira...

Lutar para viver tantas vezes seguidas...

Uma vez para poder andar,

noutra vez para uma mãe, mais uma vez ser!

E quantas lutas iguais não são travadas?

Quantas lágrimas iguais não são derramadas?

Quantas não são as estradas, para passos tão iguais?

Quantos não são chamados, a um mesmo destino pelo Pai?

Nossa Senhora por nós olhai...

Daí-nos forças, daí-nos vida!

Daí-nos a tua benção Mãe querida...

Permita que esta mãe acolha o filho nos braços!

Em outro momento desta mesma vida,

uma menina feita mulher ainda a pouco,

gritava como louca, num hospício de loucos,

pela dor que sentia nas entranhas!

A dor era tamanha,

que daquilo que a feria sentia medo,

sem saber a face tinha o rebento,

que infringia tanta dor ao corpo materno!

A luz parecia que nem havia,

os olhos eram lágrimas, solidão e medo!

Do marido nem se lembrava, naquele momento!

Só queria que lhe arrancassem a dor nas partes...

E foi com um suspiro profundo e intenso,

que o pensamento subiu ao Pai!

Rogou em pensamento, pelo milagre de viver,

rogou pelo filho bem mais...

Nossa Senhora por nós olhai...

Dá-me forças, dá-me vida!

Dá-me a tua benção Mãe querida...

Permita que este filho, conheça o pai!

Mas como foi triste o encontro,

quando tudo era passado,

o filho que lhe dera tantas dores no parto,

não media mais do que um palmo...

Era um menino o danado, que parecia tão frágil...

Não poderia vingar aquele filho,

que de tão pequenininho, tão mirrado,

cabia numa caixa de sapato!

Quantas vidas são assim vividas,

como vidas paridas sem destino...

Cada uma de um jeito, com uma sina...

Águas de rios simultâneos, quase paralelos...

As coisas da vida tem mistérios e encantos,

a um tempo a menina menina, acorda de seu sono,

noutro tempo o menino prematuro, o da caixa de sapatos

encontra forças novas em seu corpo...

A menina menina se encontra com o filho, retendo-o em seus braços...

Quase nem lhe oferece o peito,o coma foi tanto e intenso,

que o leite quase que nem tem mais...

Quase não mata a fome do rebento, com o próprio corpo de mãe!

Instantes plenos, distintos no espaço e no tempo,

dois nascimentos, quanto tantos outros mais...

Mas as águas da vida tem seus caminhos,

se encontram, quando querem, se reencontram quando quer o Pai!