CAREÇO NERUDA

Eu careço de uma sombra do Neruda

De sua pegada menos revelada

De uma pálida lembrança acanhada

E talvez no seu olhar para o mar eu me descubra

Num canto do tempo me debruço

E escuto do silencio o cantar

Que chora das horas o desabar

Dolorosas no colo do velho bruxo

Entre sinos adormeço

Ausente dos ressentidos versos

Desprezo o meu olhar perverso

Sobre os macios sonhos em que pereço

Eu careço de uma sombra do Neruda

De sua espada menos afiada

De sua mágica voz de luz azulada

Dilacerando minha ilusão desnuda.