POEMA LONGO: CANTO IV - O RIO SE AVOLUMA E TRANSBORDA...

CANTO IV :

O rio se avoluma e transborda...

Tem horas, que o rio apresenta-se com mais volume de água...

Tanto que banha as margens, com mais força, constância!

É tanta força nas entranhas de si, que transborda...

E a vida renasce onde havia quase perecido!

E a vida se mostra, onde antes nunca tinha havido!

Edvaldo Rosa

20/12/2009

E as horas e os dias, não foram mais os mesmos...

E outros afazeres se faziam necessários,

a arrumação da casa, as ordens para a cozinheira,

o cardápio do jantar... Tudo com amor e carinho!

Sobre a mesa outros pratos haviam...

Era para o homem que chegaria,

da lide do dia esbaforido! E se regalaria,

com as iguarias, que o amor houvera cozido!

Até as rotinas dos dias,

estas foram aos poucos se modificando...

Se antes a menina, menina, brincava com a vida,

agora era a vida que com ela estava brincando!

Foram dias de lutas, batalhas intensas...

A moça, moça, tornada mulher, pelo amor sentido,

curava sem o saber em suas entranhas,

aquela que lhe traria alegrias e esperanças...

Uma menina veio, àquela mulher,

como uma luz, um sol, num céu, azul de primavera!

Era uma menina bela, qual aquela, menina, menina,

que menina,menina, mais não o era!

E a graça foi tanta, naquela menina tão meiga e tímida

que à ela foi dado um nome de santa...

Para que ela lhe protegesse no destino,

desde criança até ser uma mulher...

E as horas e os dias, não foram mais os mesmos,

haviam novos caminhos, para a menina, menina, agora mulher...

Eram caminhos duros, que o amor tornava lindos,

sendo percorridos,pela menina, menina, mulher e seus acordados pés...

Enquanto criava a cria de seus sentidos,

ansiando mais para si, do que tinha,

a outrora menina, agora tão mulher,

foi ser parteira diplomada, para assistir a quem puder...

E as horas e os dias, não foram mais os mesmos,

tinha a casa, tinha o marido, tinha a filha...

Tinha a maternidade, tinha mais a quem cuidar...

A vida quanto não se modificara! Sendo o que que é!

Mas as forças por debaixo do espelho d'água,

ainda não cessaram...

E do ventre da menina, moça, mulher,

outra menina veio aumentar-lhe a alegria de viver...

Ela se chamou Ana, outro nome de santa...

Trazia na face um sorriso largo,

braços abertos, sempre prontos para o abraço,

feito um laço, bonito e colorido, num presente para si ofertar!

Mas quando tudo parece calmo,

em verdade assim não o é...

Embora tendo duas filhas, para dar colo,

logo, veio-lhe um menino, atar-se a seus pés...

O tempo parece que corre,

tudo agora se mostra tão junto,

como se todo o ocorrido,

tivesse acabado de acontecer...

E num instante, entre os braços quentes,

quantos olhos ardentes, quantos braços suplicantes,

quantas bocas famintas, quantas vidas:

O marido, as duas filhas, e o varão da família!

A vida brinca assim com as nossas vidas,

num instante nada somos e temos,

noutro temos tanto e tanto somos,

que só compreendemos, mediante ter fé!

Mas a mulher é uma seara fértil,

que nasce de um tudo quando se quer...

Mas a menina, mulher era fértil e não forte,

só ela sabia, o quanto lhe doía ser mulher...

Um quarto filho já se encaminhava,

pelos caminhos de suas entranhas...

E do ventre que amadurecia,

os médicos, preocupados, se ocuparam...

Suas entranhas, estranharam tanto a criancinha,

que em coma a menina, menina colocaram...

E disse um médico: Se salvarmos a mulher, o feto morre,

se salvarmos o feto, morre a mulher...

Mas a vida é como é; tem forças ocultas em seu ser,

que quem olha pode nem perceber, e se torna difícil entender o viver...

Mas a vida não é qualquer coisa, para se dispor como se queira...

A menina, menina, agora mulher queria este filho!

O marido, então desnorteado, sem querer, não o querer

foi buscar no passado, a força para viver este momento difícil...

Foi aos pés do Cristo, pedir pela vida de seus amados...

Pela vida do amado filho, pela vida da amada mulher!

O rebento nasceu como que a pulso...O ventre

já não mais o poderia conter, e o bebê não poderia nele ser contido!

Viveu o menino, era outro menino, enquanto a mãe perdia os sentidos...

Vicejava o fruto do amor, de seu ser... Enquanto a mulher, lutava para viver!

E o tempo, tão liquido quanto o rio,

fluindo, fluindo já se ia perdendo por ai...

Olhos negros fechados, pelo coma induzido pelo difícil parto,

se prolongou por um tempo quase infinito...

Que sina esta da menina, menina... Sempre dormindo!

Seu corpo frágil a todo tempo,

guarda em seu ser, bem fundo, no seu centro,

uma gana, enorme em viver, e deixar viver...

Foram meses de longa e doida espera,

o marido, quatro filhos, perambulavam aqui e ali,

era a casa, o hospital e a capela...

Esperando que a mãe, a mulher, acordasse com a vida, por viver!

No espaço interno da capela,

existem rastros, são os traços dos passos, do marido

que ajoelhado sob os pés do Cristo,

se perguntando por que isto, assim, tinha que acontecer...

E foi tanta reza, tanto terço, tanta promessa, tanto pedido,

que mais uma vez houve de chegar aos ouvidos dos santos...

Mais uma vez foram atendidos os pedidos...

Nossa Senhora, não queria ver outra família aos prantos!

É incrível que a vida também mata, na gana de haver...

Só com fé a gente se arrisca, tenta, erra e acerta...

Aceita as coisas como devem ser!

Amor a gente sente, sem o que ele nos apronta, na sua forma de ser!

Hoje o rebento que quase arrebenta, a forja que lhe forjou ...

Quando pensa no que poderia ter sido uma perda, chora e lamenta...

Mas se alegra, pela mulher que deu-lhe a forma de ser...

E quando a abraça, segura-a com uma ternura, que sofrimento algum alcança!

Amar é ter fé, é ter esperança, é desejar, é crer...

A vida tem em si misteriosas forças,

caminhos e descaminhos,

que só quem não teme viver, poderá conhecer