INVISIBILIDADE
Venho de longe... – de muito longe
Por estes caminhos sombrios, ensolarados
Contando minha porção de passos...
Vaguei tanto pra chegar onde estou
Agora com esta aparência
Esta bagagem de anos que me faz curvado...
Meu fôlego curto, minhas mãos tremulas
Cansadas da labuta
Do ofício...
Trabalhei muito... – construir Brasília.
Às vezes me arrependo, quero pôr fogo,
Mas sou contido
Por ainda acreditar na juventude.
Esta juventude que mal sabe ler no rosto
Traços escritos pelo tempo... – sabedoria.
As linhas do tempo são construídas, e não adivinhadas.
Mas não os culpo inteiramente.
Isto é reflexo da engrenagem caótica
Do mundo moderno
Que fazem dos homens máquinas.
Diz meu amigo Bemvindo Sequeira:
“Quanto mais velho, mais transparente você se torna.
Chegar a ficar invisível: ninguém mais lhe percebe,
Mais um pouco e nem lhe enxergam.”
Há invisibilidade por toda parte.
Isto é arte: deixar que o tempo pinte em nossa pele
As cores da velhice.