Mundo Avesso
Eu vivi num mundo avesso...
Pisando em terra suada...
Respirando o ar puro e travesso...
Que soprava do bico, um assovio...
E segurava livres asas...
Vislumbrei a criação...
Obra de arte tão vasta...
Enxerguei a fumaça, vi Maria...
E as linhas por onde deslizava...
Quando ela chegava...
Nos alertava sua gritaria...
Corríamos junto ao gado...
Ao seu lado... “Teus escravos”...
Ela apitava, e se despedia...
Colhia café no braço...
Cortava cana no facão....
Em meio ao jardim...
Um tatu cavava sua toca...
Remédio bom, era de capim...
Doença não era como fofoca...
Mulher tratava-se como rosa...
Homem era feito estopim...
A noite depois da reza...
Painho acendia a fogueira...
E dizia que estória que se preza...
Não se conta com luz acesa...
Em noites calmas, candura...
Os olhos à espreita...
Lendas contadas á beira...
Dum céu cheio de estrelas...
Sonhos na cheia Lua...
Uivos na lua cheia...
Salta pé... só pé...
Na boca, cachimbo...
E um gorro vermelho...
Na cachola do negrinho...
Enquanto o véio, “Senhor”
Chapéu de paia à cabeça...
Espingarda véia à cintura...
Toma pinga da roça...
E toca a caipirinha na viola...
Encolhe e estica...
Sanfona geme...
Brota raiz, chora canção...
A dona, “Senhora”...
Lava roupa no ribeirão...
Faz sabão da gordura...
Come o tal do “capitão”...
Cozinha no fogão à lenha...
E se banha no ribeirão...
Bebida de homi, “cachaça”...
Lugar de muié, “fogão”...