O ÍNDIO
O índio olhando sol
Que nascia por trás da serra.
Soltou um pranto feroz
Que vivia dentro da terra.
Os rios olhando-o pararam
Suas marchas para o mar.
Do índio ouviu-se um canto
Que o mundo se pôs a chorar.
“Não me vale a vida mais longe
Do verde que eu chamo de sorte.
Já choram os meus filhos mais sós
Sem rumo que eu chamo de morte.
Do que vele as asas do pássaro
Maiores que pobre andorinha.
Eu quero a cantiga da mata
A paz da minha própria casinha.
Eu quero o canto mais livre
Do peito que na tarde se vai.
Do rio que dorme mais triste,
Do filho que me chama de pai.
Do sorriso que morre silente,
Do homem que olha p´ro alem,
Dos olhos que não fitam as estrelas
Porque as estrelas mais lindas não têm.
Não sei a quem cabe mais culpa
Presse negro e turbulento estado.
Se é do índio que não tem futuro
Ou do branco que não tem passado”.
O índio calou-se de repente
Fitando um alegre passarinho
E cantando a sua fiel balada,
Pusseram-se a caminharem sozinhos.
Então, o sol tristemente
Não partiu p´ra noite chegar.
Ficou a contemplar os dois
Sem terra, sem rumo e sem lar.