O sentido e não-entendido.

Dizem sempre não me entenderem

e pensam que eu poderia ser mais normal

Dizem também que não há espaço para gente como eu

não nesse mundo

Dizem-me ser ultrapassado,

pouco volúvel,

externamente imutável,

mente fechada.

Obrigado, obrigado a mim

e pelo que me faz assim

No meu modo de ver

ser igual a tudo é o que há de pior

e mais,

não sou diferente porque quero,

sou diferente porque simplesmente sou.

Se pudesse mesmo escolher,

eu estava bem longe daqui.

Não sou o pior,

muito menos o melhor

(sinceramente, na dúvida, prefiro ser o pior)

Ainda não achei motivo,

nada para me esclarecer

do que eu realmente sou,

e não estou nem aí para isso.

Sei mesmo que a simplicidade é uma qualidade em extinção

porque a hipocrisia mesmo tem níveis diferentes

e atua onde menos espera.

Queria ser mais simples, sim.

Na verdade,

não sei para que nasci,

mas não nasci para nada disso.

E se Jules Renard já dizia

que escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido,

então eu estou aqui para descobrir as outras maneiras

porque tenho muito o que dizer

só não sei para que,

ou ainda por quê;

Digo para poucos,

os que fazem por merecer

e escuto o mesmo tanto desses poucos

porque falar sem escutar

é oportunidade para a ignorância dar.

E se Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) já dizia

que ser poeta não sua era ambição,

era sua maneira de estar sozinho;

então eu escrevo para encontrar a mim mesmo

e conversar só comigo,

e, realmente,

quem anseia por ser poeta

merece mesmo não ser,

pois a dor de se escrever algo que realmente se sente,

a habilidade de poder traduzir o que vaga pela mente,

é profunda e obscura demais para os que só pensam que fazem.

E não desejo nada disso a ninguém, além de mim.

E não reclamo do que sou,

apenas sou o que sou,

nada mais e nada menos,

sou o que sou.

Não mudo por ninguém,

cresço para meu próprio bem

e se alguém me ajudou a perceber,

obrigado.

Acho a felicidade entediante,

porque é muito temporária

e gente que se diz feliz

e age como se fosse feliz

só esconde o que na verdade não condiz.

Se for para estar feliz,

que esteja de verdade!

As pessoas não entendem,

(e nem quero que entendam

– ninguém precisa entender),

que poesias não tem que ser só sobre rimas, sobre beleza,

e sim sobre o que elas querem dizer.

Prefiro minha poesias confusas,

as que só eu vou entender.

E não me escondo atrás de rimas,

nem da beleza superficial,

prefiro meus poemas frios e crus

do que meus poemas embelezados

que seja,

a rima é um mero detalhe

e de detalhes basta a vida.

Seja o que for ou não for,

ser poeta é uma droga,

uma maldição que me foi dada.

Que aceito sem problemas,

porque problema mesmo não é.

Mas não há muito para se fazer.

Basta aceitar e escrever

quando a inspiração aparecer.

Faz-me muito bem não ser entendido

principalmente quando escrevo

Se eu passar a gostar disso,

não vai ser a mesma coisa,

não para quem lê,

mas para quem escreve

não faria mais sentido

e só escrevo porque faz sentido,

sentido para mim.