"Como matar a canção (ou como fazer sucesso)"

Rouba-se a melodia

De uma canção estrangeira,

Inventa-se outra letra,

Sempre à base de "besteira",

Falando em pornografia,

Cachaça, "ponta" e orgia

Que tá pronta a "roedeira".

Pra completar a doideira,

Basta mais um palavrão,

Usando português claro

Pra conquistar o "povão",

Cria-se um grito de guerra,

Pois não se canta, se "berra"

No decorrer da canção.

No dia da gravação,

Pra introduzir o CD,

Um locutor de voz grave

Faz o anúncio a você

De um show de qualidade

Que, pra dizer a verdade,

Só inocente é quem vê.

Para mostrar na TV

E tocar na FM

Tem que falar palavrão

Daqueles que a terra treme,

Num linguajar bem safado

Que um canta sossegado

Enquanto o outro só "geme".

Quem dá valor é quem teme

Djavan, Caetano, Gil,

Chico Buarque, Toquinho,

Kleiton e Kledir Ramil,

Fagner, Milton Nascimento,

Aos poucos, no esquecimento,

Ao lado de outros mil.

Esse pensar varonil

É coisa de gente brega,

Que se dane a qualidade,

Só é sucesso o que pega.

E depois, pra que moral,

Se o poder do capital

Mantém nossa gente cega?

Uma coisa ninguém nega:

Educação e cultura

É que transforma um país

E livra da ditadura

Que transformou o banal

Numa coisa natural,

Embelezando a feiura.

O presente é de agrura,

Está morrendo a canção,

A nossa vida futura

Trará a grande lição:

Uma geração doente,

Construída no presente,

Quem viver, dará razão.

Fábio Luiz
Enviado por Fábio Luiz em 01/10/2011
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