INSÔNIA

Da boca saem as notas do canto,

Da alma o som do suspiro,

Dos olhos rola a água do pranto:

Onde estão os versos que aspiro?

Levou-os a insônia, e eu tonta não via,

Que todos já eram defuntos

Guardados em morgue de alegoria,

Estagnados e todos juntos

São fantasmas de noite quieta.

Batem janelas e portas da casa...

E o meu coração de poeta,

Munido de diáfanas asas,

Leva meus pensamentos ao espaço.

Nos meus olhos nem sinal de sono,

No rosto rugas sinalizam o cansaço,

E na mesa os papéis em abandono

Lembram brancas pombas

Sacrificadas ao deus do verso

Pela pena que depois tomba

Possuída por um prazer perverso,

De não mediar a disputa da inspiração

Com esta insônia que me domina,

Fazendo-me ambulante assombração

Na noite longa que não termina.

22/12/06.