As cidades

Deste mistério que são as cidades, talvez ninguém possa entender.

As cidades são corações blindados, multidões mascaradas.

As pessoas são incapazes de se revelar, escondem-se. Choram em

porões.

Maiakovski, o poeta que driblou a anatomia, foi todo um coração.

Matou-se com um tiro.

As cidades são dos sapos, não os de Manuel Bandeira, que morreu

pobre.

Sapos obesos fartam-se em lagoas onde afogam seus dólares

escamoteados.

Pessoas vulgarizam-se e aplaudem o novo líder do BBB.

Aproveitam uma diversão cruel e dormem com a cosciência em paz.

As cidades, à noite, são ocas, casas ressonam, postes fraquejam.

Mendigos adormecem com a mesma fome de quando nasceram.

Há um medo sobre as cidades, há um interstício perigoso entre um

bom dia no ônibus

E um até logo depois do almoço. Trabalha-se para comer, pois as

cidades exigem

dinheiro. Mas o homem exaurido tem sede. Bebe do próprio suor.

Eu observo as cidades como uma lebre branca com seus olhos

vermelhos:

Inquietação e temor.

Tenho medo dessa grandeza das cidades, elas me parecem vazias e

geladas como a ponta de um iceberg.

Taylane Cruz
Enviado por Taylane Cruz em 29/09/2011
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