eu sou
eu sou
a voz embargada
que vem de dentro
do teu peito
o sufoco
a saudade
a solidão que sentes
em plena multidão
na confusão da cidade
no teu trajeto desfeito
eu sou
a exaustão dos teus pés
a vontade enorme de voltar
a agonia
o revés
a nostalgia imensa
que te invade
quando olhas perdida
o mar
eu sou
esse teu olhar
essa tua falta de chão
esse teu jeito de não
de não querer
de não poder
o teu desejo
de quem já teve
de quem já foi
sou as tuas manias
as mais estranhas
as artimanhas
as tentativas
a sensação do teu corpo
largado num canto
a deriva
depois de tudo
depois de tanto
sou o medo
os teus segredos
o teu pavor do abandono
a razão dos teus prantos
sou todos aqueles sonhos
que te escorrem lentos
pelos dedos
durante o sono
eu sou afinal
se qualquer outro não for
(se não houver outro dono)
o teu eterno e verdadeiro amor