A POESIA

“Qualquer hora é hora de fazer um poema.” (Gertrude Stein).

A poesia, quando quer,

ganha corpo e passeia

nos lugares e nas coisas mais improváveis.

Oculta nela um segredo

retido a sete chaves;

que por acaso,

outro dia, descobri:

ela sabe se tornar invisível.

Na maioria das vezes ela é perceptível.

Mas, quando quer ou necessita,

sabe ser discreta, faz-se de muda.

E, nestes dias e nestas ocasiões,

somente seres especiais a avista,

quando de seus excursionismos materiais.

Quando se materializa ela é coisas e não vocábulos.

Ganha forma, às mais diversas, e, cores espetaculares!

A poesia possui uma magia fascinante.

Pena que consegue encantar poucos.

E em tão raros momentos!

Outro dia, ela teve uma idéia genial:

fingiu-se de assanhaço;

e num azul maravilhoso

veio se fartar no meu quintal.

E lá se foi à derradeira papaia

amadurada do meu pomar!

Noutra ocasião, olha que danada, ela veio canto!

E o canarinho amareleja com ouro na testa,

fez festa no meu telhado.

E tudo ficou enfeitiçado.

Mas somente eu sabia

que era a poesia

que brincava de encantar!

Outra manhã, ela chegou borboleta.

veio enfeitada de cores e trazia uma paz indescritível.

Brincou e beijou em todas as flores do meu jardim.

Uma das minhas azaléias ficou apaixonada por ela.

Garbosa ela voltou na manhã seguinte e na outra;

Parece até que vinha só para encontrar

comigo no jardim de casa. Notei isso nela!

Outra tarde, ela veio chuva.

Dançou linda nos vidros da minha janela!

Parecia que nem era ela

de tão voluptuosa que estava.

Mas eu a reconheço bem.

Sei que era ela que brincava aqui.

Ela que dançava sensual na minha janela;

depois, tomada de timidez, disfarçou-se

pelo chão e esvaeceu silente.

Numa noite dessas, ela se ergueu e se escondeu na lua!

A noite se fez viva e única!

Ela se exibia desvairadamente.

Pela fresta da minha janela eu a via artista

e o espetáculo virou a melhor das festas.

Era para mim que ela se mostrava, somente para mim!

Acho que agora temos um caso de amor, coisa meio secreta.

Apenas eu é que sabia

que era a poesia

que meio nua se exibia

no alto da lua naquela noite mágica!

Meu Deus!

Hoje ela veio loucura!

Apenas agora é que meu dei conta.

Ela encarnou-se em mim e me fez seu delator.

Um Judas moderno; mas o mesmo infiel de sempre!

Agora, qualquer um saberá distinguir a poesia por aí.

Por mais discreta que ela vier nas suas incursões noturnas

será vista, isto, por força e graça deste ser descuidado e distraído.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 25/09/2011
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