O PODER POÉTICO

Um poeta não sente a dor

comum dos vivos.

Nem derrama lágrimas

com os olhos físicos.

Seu coração não pulsa

em batidas contadas.

Nem sua consciência julga

conduta desregrada.

O poeta sim, sangra na alma

pelo que lhe fere na carne.

Soluça mil vezes o último suspiro

sem nunca ter morrido.

Reserva para si, o dom de dar vida

a reles paisagem morta.

Cura a angústia, adorna a tristeza

de frágil coração sofrido.

Pode tocar a pele feia, áspera, enrugada

e senti-la bela, macia, delicada...

Converte a mais bravia tempestade

num lindo dia, ensolarado.

Captura a solidão, abraça a saudade.

Igual criança, sonha acordado.

Anda no passado, prevê o futuro.

Desfila suas fantasias na noite nua.

Se vê pelo lado de fora do mundo.

Emudece trovões, namora a lua.

Revela candura na dura existência.

Constrói sonhos nobres para a sorte.

Um poeta pode até parar o tempo.

Voar sem ter asas, matar a morte.

O poeta pode tocar nas estrelas.

Fazer chover, sentir prazer na dor.

Voltar ao paraíso e falar com Deus.

Um poeta só não pode iludir o amor.