FRATURA EXPOSTA
Saudade de algo que nunca tive
Vontade de comer algo que nunca comi
De beber algo que nunca bebi
De estar onde nunca estive
De amar quem nunca amei
De odiar quem nunca odiei
De trabalhar onde nunca trabalhei
De morar onde nunca pensei morar
De pensar em coisas que nunca pensei em pensar
De eternizar tudo que parece banal
De chorar em meio a um bloco de carnaval
De percorrer um caminho nunca percorrido
De viajar para um lugar inóspito
De escalar um relevo não mapeado
De parar de ser esse ser ensimesmado.
Vontade de abraçar quem nunca abracei
De saber todas as coisas que não sei
De ter um ataque de riso em pleno velório
De ser pedante e não tão simplório
De ver o que nunca foi visto ou descrito
De escrever o que nunca foi escrito
De não ser esse ser tão proscrito.
Vontade de fumar o que não foi fumado
De morrer de overdose de uma droga não catalogada
De me perder numa trilha nunca antes trilhada
De me permitir o que nunca tinha concebido
De ouvir o inaudível...
De sentir o insensível...
De desenhar o indescritível...
De fazer algo que nunca fiz
De correr como nunca corri
E ser algo que nunca vou ser...
E de não ter escrito isso que você acabou de ler.