[A Dor e o Sonho]
[Sonha, sonha sonhador... sonha a tua dor!]
O sonhador não vive, sonha a vida;
experimenta simulacros de desejos,
curte uma pálida existência vicária,
refocila-se no charco pantanoso
da languidez de sua anódina vontade!
E se alguma dor ele sente,
não é dor, mas é sonho de dor!
E tanto geme, e tanto se lamuria
daquilo que de fato não sente,
que, por fim, atira ao mundo
a impostura decomposta em palavras!
Às vezes, põe-se em molejos de partir,
mas depois, como de hábito,
recolhido em si, ele reflui;
e de pensamentos soltos no ar,
olhos perdidos no sonho,
ele escapa... escapa sim,
nas asas de seus sonhos,
que não precisam de senha para voar!
[Penas do Desterro, 26 de março de 1999]