Momento Íntimo

Não me peças a palavra exata

Vivo para além de todas as letras

Pudesses adivinhar os gestos

Quando entre um verso e outro

Suspira o olhar em eterna busca

Não me falarias em certezas

Perscruta-me sempre o indizível

Precipício sorrateiro e invisível

Onde as mãos lançam-se vazias

Ávidas por mim mesma

Mãos alheias, vezes suaves

Estendidas a recolher

As preces que eu não disse

Mãos que me aprisionam

Em muros farpados

Arranhando-me a pele dos sentidos

Mãos que me afagam

E acolhem sem perguntas

Os lamentos que não senti

É apenas meu este silêncio

Esse confessar íntimo de palavras

Quando desgarradas de mim

As mãos sussurram meus gritos inaudíveis

E entrelaçam meus dedos e voz

Conjugando os meus sons

Ecos desafinados do meu desconhecer

Esses que como cordas tensas

Perambulam notas graves

Buscando o tom que mais revele

Esta dissonante incompreensão

Impalpabilidade de mim por mim mesma

Neste momento em que sou apenas só

E minhas mãos são pedras

Da minha própria vidraça

Estilhaçando as lágrimas

Que meus olhos não puderam chorar

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 01/02/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T3236