Ensaios da memória
Venho redescobrindo algumas memórias
Como páginas coladas.
Lembro coisas que pensei,
Fiz e pensei em fazer.
De atitudes que não teria novamente,
De planos que sonhei.
Minha memória esquece de lembrar
De cenas guardadas em gavetas tão profundas
Que nem sei como encontrar,
Porque, tão importante quanto lembrar,
É saber esquecer.
Com frequência,
Frente à minha tela,
Vejo canais antigos,
Divertidos, sofridos
De um passado que me toma
Enquanto o presente me foge.
Há pontos de marcação,
Pontos de retorno
Nos quais gravei a pergunta:
Como será daqui a dez anos?
Tenho dois ou três espalhados na história,
Na história das memórias que tenho de mim
E na história das memórias que tenho
Sobre minhas próprias memórias.
Os acesso e tomo assento
Ao lado de mim.
Mim sou eu que me estranha
Tanto quanto eu a ele,
Mas, por mais estranho que seja,
Sempre me reconheço,
Pois concordamos que tudo
É estranheza.