Ensaios da memória

Venho redescobrindo algumas memórias

Como páginas coladas.

Lembro coisas que pensei,

Fiz e pensei em fazer.

De atitudes que não teria novamente,

De planos que sonhei.

Minha memória esquece de lembrar

De cenas guardadas em gavetas tão profundas

Que nem sei como encontrar,

Porque, tão importante quanto lembrar,

É saber esquecer.

Com frequência,

Frente à minha tela,

Vejo canais antigos,

Divertidos, sofridos

De um passado que me toma

Enquanto o presente me foge.

Há pontos de marcação,

Pontos de retorno

Nos quais gravei a pergunta:

Como será daqui a dez anos?

Tenho dois ou três espalhados na história,

Na história das memórias que tenho de mim

E na história das memórias que tenho

Sobre minhas próprias memórias.

Os acesso e tomo assento

Ao lado de mim.

Mim sou eu que me estranha

Tanto quanto eu a ele,

Mas, por mais estranho que seja,

Sempre me reconheço,

Pois concordamos que tudo

É estranheza.

Paulo Fernando Pinheiro
Enviado por Paulo Fernando Pinheiro em 21/09/2011
Reeditado em 22/09/2011
Código do texto: T3232274
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