A MULHER QUE NÃO CALAVA

Quanto mais lhe amordaçavam

Tanto mais ela falava

Com mãos, com olhos, com a alma

Ninguém saberia explicar

Donde vinha a eloqüência,

Da lucidez ou da demência?

Dos olhos, eles a privaram

As mãos, eles as ataram

Mas a alma ainda estava lá

E contudo e mesmo por tanto

Aquela mulher com seu pranto

Não se fazia calar

“Por que choras, criatura?

Esperanças já não há

Libertas de ti a amargura

Entregando a alma impura

se nada mais tens prá dar”

Cega, muda e acorrentada

Sem palavra proferida

Mostrava só com a vida

Que quando não resta mais nada

Ainda vale lutar

Apenas a sua presença

Parecia despertar

Em todos que a viam, uma crença

Que quanto mais se nos tiram

Mais temos o que ofertar

Luth
Enviado por Luth em 19/09/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3229455