A MULHER QUE NÃO CALAVA
Quanto mais lhe amordaçavam
Tanto mais ela falava
Com mãos, com olhos, com a alma
Ninguém saberia explicar
Donde vinha a eloqüência,
Da lucidez ou da demência?
Dos olhos, eles a privaram
As mãos, eles as ataram
Mas a alma ainda estava lá
E contudo e mesmo por tanto
Aquela mulher com seu pranto
Não se fazia calar
“Por que choras, criatura?
Esperanças já não há
Libertas de ti a amargura
Entregando a alma impura
se nada mais tens prá dar”
Cega, muda e acorrentada
Sem palavra proferida
Mostrava só com a vida
Que quando não resta mais nada
Ainda vale lutar
Apenas a sua presença
Parecia despertar
Em todos que a viam, uma crença
Que quanto mais se nos tiram
Mais temos o que ofertar