Eu
Graduei-me em Computação,
Mas não computo...
Pós-graduei-me em Engenharia,
Mas não sou engenheiro.
Trabalho na Matemática,
Mas não sou matemático.
Já publiquei um livro,
Mas não sou letrado.
E componho poesias,
Sem ser escritor.
O que sou então?
Um pouco de tudo.
Trabalho com pesquisa
Que se chama “pesquisa”:
Pesquisa Operacional.
Interdisciplinar, multifuncional.
O meio do caminho entre
Engenharia e Matemática,
Gestão e Informática.
Para os brasileiros,
Tenho cara de japonês.
Lá no Japão,
Sou “gaijin”, brasileiro.
Na minha família oriental,
O sangue italiano se distingue.
Na Europa, ninguém apostava
Que sou brasileiro.
Quem sou então?
Uma mistura de tudo.
Uma mescla, mestiço,
Híbrido, holístico.
Em contínua formação,
Uma completa incompletude.
Como disse o Raul Seixas:
“Eu sou a vela que acende,
Eu sou a luz que se apaga,
Eu sou a beira do abismo,
Eu sou o tudo e o nada.”
“Eu sou o início,
O fim e o meio.”
E aprendi com a Clarice Lispector:
“Inútil querer me classificar:
Eu simplesmente escapulo.
Gênero não me pega mais.
Além do mais, a vida é curta demais
Para eu ler todo o grosso dicionário
A fim de por acaso descobrir
A palavra salvadora.
Entender é sempre limitado.
As coisas não precisam mais
Fazer sentido.
Não quero ter a terrível limitação
De quem vive apenas
Do que é possível fazer sentido.”
Percebi que nem sempre
É preciso compreender.
É preciso sentir... e assim, viver.
(Catalão, 27/08/2011)