Queria ser...

Hoje, eternamente hoje...

Não queria ser nada além de mim mesmo.

Não queria ser o olhar derramado a esmo.

Não queria mais, ser a sombra de um Pessoa.

Não queria mais, ser o poema que longe ressoa.

Não queria mais, ser a gota derramada da chuva.

Não queria mais, ser o inebriante néctar da uva.

Não queria mais, ser a magia que emana da lua.

Não queria mais, ser o espectro que expia na rua.

Não queria mais, ser a luminosidade do sol de estio.

Não queria mais, ser o êxtase lancinante do frio.

Não queria mais, ser a noite transbordante de amor.

Não queria mais, ser o vento que desfolha uma flor.

Não queria mais, ser essa alma que cativa palpita.

Não queria mais, ser esse descrente que acredita.

Não queria mais do que ser o rio, que corre estagnado.

Não queria mais do que ser o pássaro recém libertado.

Brasília, 14 de setembro de 2011.