eu vivo
eu vivo
preso dentro do teu peito
na escuridão profunda
dos teus olhos
dos teus planos desfeitos
nos cantos dos teus pensamentos
eu vivo
no fundo do teu espelho
de lá eu vejo o teu corpo
teus prantos
teus desalentos
teus desenhos absortos
espalhados no vapor do banho
a verdade das tuas rugas
tuas fugas
teus calmantes
teus unguentos
eu vivo
nos teus sonhos
nos mais distantes
os mais constantes
e quando me olhas no nada
estou bem ali
diante de ti
perdida e intensa
calada
perguntas por mim
perguntas ao vento
o mesmo que devasta
essa tua solidão imensa
e sem fim