" A MORTE DA CIGARRA"
A MORTE DA CIGARRA
( 29. 01. 57 )
Caem chuvas de ouro
na terra queimada.
O céu está azul.
A campina cinza
queimou pelas pontas.
A terra está seca,
encolhida em rugas:
velhas centenárias!
Árvores copadas,
- as poucas que restam -
dão sombra à campina,
onde o sopro quente
da brisa do estio,
embala, penteia
a relva daninha,
até que ela morra
queimada de sol.
Depois quando o sol,
o sol vem caindo,
contente cigarra
sacode seu canto
- agudos distantes -
poema de amor,
à outra cigarra
de um outro lugar.
Assim de um dueto
a orquestra inicia
um grande concerto;
uma ode ao verão!
... E os badalos surram
Os sinos sonoros,
que tristes ecoam
a morte do sol.
O verão se acaba
tal sol que agoniza
no leito do céu !
Perdeu sua lança
de chispa de fogo,
o brilho, a fome,
a eterna vontade
de ser só verão !
E a luz que desmaia
não é mais contraste,
apaga a montanha,
afrouxa o horizonte,
se perde, se esconde
na crista gigante,
sepulcral e lúgubre
a oeste do céu.
Cigarra vadia
que canta, decanta
na copa das árvores
em tardes de estio,
ao ver que já morre
seu sol de esperança,
que a vida de agora
é dura infeliz...
Também se despede,
murcha para vida.
No galho, se agarra
ao seu desencanto.
Com forças que restam
espera cantando
que o frio lhe roube
o sopro de vida,
até que escorregue,
se perca, se apague
num canto vermelho
e role no CHÃO !
:Ronaldo Trigueiros Lima