Variação da incógnita pura
Sombras escritas a fogo nas paredes,
como a música que deixou seu rastro espesso,
ao se arrastar para longe de mim.
Tão logo termine o outono, retornarei,
como a chuva que sempre parece difícil.
E farei com que tudo seja traço,
ponto, curva, elipse e ogiva.
Será tudo invenção de onde nascem dúvidas,
de onde expiram as horas de mãos tensas
que carregam a mente ocupada
em entender o elementar das coisas.
Mas as coisas o são, e pronto.
E se a razão envelheceu,
como o mestre que Rodin prendeu num sonho
de pedra, argila ou bronze,
sobrou o descontrole da minha voz
poluída pela algazarra das crianças que chegam,
para massacrar a verdade que oculto nas mãos.
Primeiro digo que seja uma ilusão,
depois que é uma nuvem de gafanhotos.
Não importa a comoção, nem o efeito concreto.
São toneladas de partituras inacabadas,
são plágios aviltantes e são pequenos poderes.
Nada basta quando a fuga termina,
e se está em frente às marcas deixadas
nas paredes de uma casa distante,
como músicas em fuga de um quarto escuro.