POR QUE?
Não há dúvida:
a vida é efêmera
a febre é terçã
a mente é sã
a carne nem tanto
O pranto é real
mas não há sinal
da porta
a horta morreu pela
chuva torrencial
O caminho não tem
volta
o passarinho morreu
no aconchego do ninho
O sino da igreja toca
por volta das dezoito
um rosto apareceu em luz
para o menino doente
(que morreu de alegria)
o vermelho aumentou no
poente
em contraste ao azul
celestial
um raio matou um trabalhador
braçal
como afagos de amor
O rio de ouro foi vendido
(há ingressos à visitação)
a fome matou por falta
de terra
na casa do oprimido
Na cabeça oca há uma
ponte
a fonte secou para o
pobre
depois de matar a sede
do cavaleiro andante
A vida é longa
(são anos de guerra
com os moinhos de vento)
sobreviver é um tormento
o caminhar é sofreguidão
Porque cansei
não é caminho longo
os escombros são aos setenta
e tantos
às vezes menos
há terreno sem porta
há um gosto de veneno
no mel que alimenta
A pergunta que abriu,
fecha a casa surreal
em uma navegação sem fim:
o versar pode ter sido ruim
mas a viagem abstrata
abriu os olhos e deslizou
pelos azulejos da mata
rindo sem saber:
Por que?