POR QUE?

Não há dúvida:

a vida é efêmera

a febre é terçã

a mente é sã

a carne nem tanto

O pranto é real

mas não há sinal

da porta

a horta morreu pela

chuva torrencial

O caminho não tem

volta

o passarinho morreu

no aconchego do ninho

O sino da igreja toca

por volta das dezoito

um rosto apareceu em luz

para o menino doente

(que morreu de alegria)

o vermelho aumentou no

poente

em contraste ao azul

celestial

um raio matou um trabalhador

braçal

como afagos de amor

O rio de ouro foi vendido

(há ingressos à visitação)

a fome matou por falta

de terra

na casa do oprimido

Na cabeça oca há uma

ponte

a fonte secou para o

pobre

depois de matar a sede

do cavaleiro andante

A vida é longa

(são anos de guerra

com os moinhos de vento)

sobreviver é um tormento

o caminhar é sofreguidão

Porque cansei

não é caminho longo

os escombros são aos setenta

e tantos

às vezes menos

há terreno sem porta

há um gosto de veneno

no mel que alimenta

A pergunta que abriu,

fecha a casa surreal

em uma navegação sem fim:

o versar pode ter sido ruim

mas a viagem abstrata

abriu os olhos e deslizou

pelos azulejos da mata

rindo sem saber:

Por que?

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 12/09/2011
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