Suplício

Maldito beijo...

piedade que fere,

maldito sonho e chuva maldita!

Impiedosos amigos,

maldita fraqueza e insanas palavras...

violência íntima,

da atma mais enlouquecida.

Pingos de chama,

de chuva cortante,

final poético trágico,

início do meu suplício.

Maldita e doce tarde,

de meu beijo mais sereno e alegre,

faíscas de minha frágua,

maldito sonho que me alimentou a sede,

de teu perfume colhi minha desordem;

onde estás, láureo cavaleiro?

Por que maldição não foste embora?

Maldita chance perdida,

até hoje muitas vezes chorada...

Poemas, malditos, jogados em vão

sobre meu lençol,

ocupando espaço e estraçalhando-me...

hoje posso rasgar-me ao violão

e rasgá-los, malditos versos,

mas ainda que a razão me falte,

com as mãos não hei de rasgar-te,

que de ti somente tenho os poemas...

e a lacuna, vaga e irritante,

de tudo que não realizei por meus sonhos.

Matando-me,

incauta,

como em suplício,

ardendo de dor...

Maldita imagem do medo,

olhos castanhos que jamais me deixaram,

e sem dormir, em paz fiquei,

somente em sombra, mas fiquei...

reversa e tempestuosa,

fugindo ao eterno suplício,

da mágoa ensandecida.

Bendita dor tão amarga!

Demente, doente, desmentida,

por seus olhos castanhos tornei-me séria,

e é por isso que eu não paro de rir,

da minha própria loucura

retiro meu antídoto.

Benditas mentiras malditas,

que até em sonhos acredito serem reais;

por falta de cinzas,

torno-me, hoje, brasa,

da pele queimada e alma gelada...

Láureo cavaleiro...

quem é esta dama, sua amada?

Por que é que não posso sê-la, eu?

Maldito beijo final,

maldita hora em que não pude...

por todo o sempre, em suplício,

vai torturar-me...