Penteadeiras

Eu sou do tempo quando as ruas tinham esquinas

Daquelas onde se encontravam as sinas

De quando mulheres eram mulheres

E meninas eram meninas

Houve esse tempo renegado

Pelo progresso incinerado

Restando apenas em nossos olhos da lembrança

As figuras, os quadros, as velhinhas de cocó

O homem que vestia paletó

Havia móveis pesados cheios de mistério e perfume

E, à noite, pelos quartos, voejavam vagalumes

Tempo bom aquele, quando tudo demorava

Carta, bilhete, telegrama e, mais ainda, beijo da namorada

Dias de sol em manhãs de cristal

Dias de chuva formando lamaçal

Horas de histórias da avó sentada na cadeira de balanço

Caíam os frutos das goiabeiras

Pássaros confiantes bicavam a soleira

A mulher se embelezava

Sentada no puff frente à penteadeira

O homem tinha bigode, palavra e relógio de algibeira

Tinha mulher e também amante

Que homem não era de brincadeira

O estrangeiro era um lugar lá longe

Tão distante que nem pensamento alcançava

E a terra onde se nascia

Era coisa que a gente amava

taniameneses
Enviado por taniameneses em 11/09/2011
Reeditado em 11/09/2011
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