Carrossel

Quando a viu espiando de longe

Cogitou ignorar aquele rosto

Aflito, tenso, em desgosto

Contrariando o que nunca fora antes.

Em sua curiosidade desvairada,

Resolveu esperar o que viria

Dos olhos da menina ousada,

Dos sentidos que desconhecia.

Conheceu-a além de si

E reprimiu a imagem que projetava

O erro que se desdobrava ali

Seus padrões que contrariava.

E ela continuava em sua dança,

Em desajeito, mas com encanto

Traduzindo seu desamor em palavras

Esperando, esperando, esperando.

E ele sabia que jamais iria

Ao encontro, acalentar a espera

Apesar de sentir que a tinha,

Não podia aceitar a ela.

Era além de suas convicções

Que convicto o fizera crer ser algo

Era um montante de sonhos, ilusões

Voando demasiado alto.

Esperou mais um dia a inércia

Da sua dor, de toda a peripécia,

Por se enganar ao obrigar-se a não tê-la

Em sua constante necessidade de refazê-la.

Viu-a a última vez

Era a mesma, a lágrima na face

Os lábios duros, como se não amasse

Mas os olhos desmascarando o disfarce.

Nunca mais ele ouviu falar dela

E até hoje seu peito é meio vazio

Os dias mornos, as alegrias moderadas

Um desconfortante e inexorável frio.

Não se sente arrependido

Chama de felicidade comum

Mentindo seu conformismo,

Atirando-se de seu próprio abismo.

Refletindo em seu peito desvalido

A vida sem amor algum.

Fernanda Vogt
Enviado por Fernanda Vogt em 10/09/2011
Código do texto: T3211785
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