Carrossel
Quando a viu espiando de longe
Cogitou ignorar aquele rosto
Aflito, tenso, em desgosto
Contrariando o que nunca fora antes.
Em sua curiosidade desvairada,
Resolveu esperar o que viria
Dos olhos da menina ousada,
Dos sentidos que desconhecia.
Conheceu-a além de si
E reprimiu a imagem que projetava
O erro que se desdobrava ali
Seus padrões que contrariava.
E ela continuava em sua dança,
Em desajeito, mas com encanto
Traduzindo seu desamor em palavras
Esperando, esperando, esperando.
E ele sabia que jamais iria
Ao encontro, acalentar a espera
Apesar de sentir que a tinha,
Não podia aceitar a ela.
Era além de suas convicções
Que convicto o fizera crer ser algo
Era um montante de sonhos, ilusões
Voando demasiado alto.
Esperou mais um dia a inércia
Da sua dor, de toda a peripécia,
Por se enganar ao obrigar-se a não tê-la
Em sua constante necessidade de refazê-la.
Viu-a a última vez
Era a mesma, a lágrima na face
Os lábios duros, como se não amasse
Mas os olhos desmascarando o disfarce.
Nunca mais ele ouviu falar dela
E até hoje seu peito é meio vazio
Os dias mornos, as alegrias moderadas
Um desconfortante e inexorável frio.
Não se sente arrependido
Chama de felicidade comum
Mentindo seu conformismo,
Atirando-se de seu próprio abismo.
Refletindo em seu peito desvalido
A vida sem amor algum.