Viver de Riscos e de Vento
Não sou fruta, sou o caroço da fruta.
Ainda bem, pois sendo fruto eu seria dada à ceia.
Assim estando ainda para virar polpa,
eu posso arquejar ao vento,
ir para lá e para cá entre os direitos humanos
em plenitude, ao léu e ao vento...
fico ao galho abundante de folhas,
as folhas inteirinhas verdes e companheiras.
O galho é ao redor de outros galhos.
Mas, sendo o porvir, eu sou a árvore do fruto.
E tudo reina, tudo é belo e tudo respira.
Porque sou ainda e sempre ainda o caroço ou a semente.
Caroço é mais bruto, semente é mais fino.
Mas, eu sou qualquer coisa bruta,
porque me dou a nascer a todo o tempo.
E também sou fina, porque as folhas,
os galhos e a árvore me dão dimensão
de minha pequenez e aí eu posso ser mais delicada.
Mais que isso: na resposta de eu sempre estar para vir,
não preciso ter medo de estar ali pendente.
Posso, posso, muito, muito mesmo jogar-me ao vento.
E que a ceia de minhas palavras salvem-se depois de tudo.
Inclusive depois de, quem sabe, alguém confundir-me com fruto.
Mas, sempre, sempre quero ter a liberdade de ser antes da fruta.