Viver de Riscos e de Vento

Não sou fruta, sou o caroço da fruta.

Ainda bem, pois sendo fruto eu seria dada à ceia.

Assim estando ainda para virar polpa,

eu posso arquejar ao vento,

ir para lá e para cá entre os direitos humanos

em plenitude, ao léu e ao vento...

fico ao galho abundante de folhas,

as folhas inteirinhas verdes e companheiras.

O galho é ao redor de outros galhos.

Mas, sendo o porvir, eu sou a árvore do fruto.

E tudo reina, tudo é belo e tudo respira.

Porque sou ainda e sempre ainda o caroço ou a semente.

Caroço é mais bruto, semente é mais fino.

Mas, eu sou qualquer coisa bruta,

porque me dou a nascer a todo o tempo.

E também sou fina, porque as folhas,

os galhos e a árvore me dão dimensão

de minha pequenez e aí eu posso ser mais delicada.

Mais que isso: na resposta de eu sempre estar para vir,

não preciso ter medo de estar ali pendente.

Posso, posso, muito, muito mesmo jogar-me ao vento.

E que a ceia de minhas palavras salvem-se depois de tudo.

Inclusive depois de, quem sabe, alguém confundir-me com fruto.

Mas, sempre, sempre quero ter a liberdade de ser antes da fruta.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 09/09/2011
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