Senhores da noite
Quando os galantes senhores noturnos,
envergam suas capas de gabardine azul,
é que chegou o outono inventado,
escrito na lápide dos escritores mortos.
E inflamam seus olhos sonolentos,
buscando a porta de uma taberna escura,
mais oculta que o próprio segredo
das flores que sobram na estação morrente.
Entram soturnos como a febre insolente,
que arrasta princesas e poetas fracos,
arrebatam os anjos de suas moradas de pedra,
e libertam o poema das pautas inertes.
Quando os galantes senhores da noite,
falam com voz de quem não mais existe,
desmaiam senhoras e despertam répteis,
que logo assustados,se põem em fuga,
o tempo se extingue, e a luz se manifesta,
num candeeiro antigo, passando pela fresta
a chama fria, o hálito de besta fera,
dizendo do mundo sob a capa azul,
e dizendo da dor, sob o manto estrelado.
Quando dois senhores galantes noturnos,
voltam seus olhos imersos em pura verdade,
para porta de onde vieram todas as coisas,
encerram no peito a chave pra toda cura.
Invertem as cores escuras da fumaça que sobe
e a dança canalha das senhoras justapostas.
é o acaso encerrando a significante na prosa,
e o que é verdade numa dose de vodka.
É o insulto transformado em assombro,
e o indecifrável, num verme no meio de uma frase.