Entre o caos e o egocentrismo

Estou aqui no escuro e em total silêncio assistindo Cães de Aluguel. Assistir filmes após a meia-noite, sozinho com meu Schweppes parece fazer algum sentido. De qualquer forma, no mínimo é o melhor jeito de apreciar um bom filme. As únicas luzes acesas no restante da vizinhança são provindas dos postes. Casas com luzes apagadas.

De repente uma sirene ecoa, e o silêncio é quebrado. Meu filme é interrompido. Olho pelas frestas da persiana e um caminhão de bombeiros e uma ambulância cortam as ruas até então vazias, escuras e silenciosas, com suas sirenes, luzes e seu maldito som.

Luzes começam a acender na vizinhança. O vizinho da casa da frente fica puto com a situação. Ele tem que acordar às 05h10min e a merda de uma sirene lhe acorda pouco após ele pegar no sono. Havia rolado na cama na espera do sono por mais de uma hora. E no dia seguinte precisava acordar cedo. E a sirene o acorda, e ele fica puto. E meu filme é interrompido.

No centro chamas de 12 metros lambem o céu negro, pessoas carbonizadas, pessoas pulando da janela, gritaria. Falam que dá para ouvir o grito do diabo quando alguém é queimado vivo.

A noite não é mais calma, e me pergunto por que diabos esse prédio não pegou fogo de dia? E meu vizinho se pergunta por que ele não queimou em um sábado.

Gritaria, fogo, chamas, ambulâncias, vidas acabando, pessoas sendo perturbadas. Carros de reportagem e jornalistas chegam ao local. Entrevistas, flashes, fotografias oportunistas. A televisão vazará sangue, queimará seu rosto e te ensurdecerá com gritos infernais. Os noticiários terão do que falar, as pessoas terão o quer comentar ao longo da semana, e alguns terão velórios para ir, e talvez corpos para identificar.

03h00min e o silêncio e a escuridão retomam o poder. Volto ao filme. Às 10h00min acordarei, fritarei bacon, ligarei a televisão. O noticiário terá do que falar.