MOEDAS NA PASSAGEM
Aqueles dias em que estávamos juntos
Éramos um ser dentro do mesmo ser
O grande amor anoitece pra no outro amanhecer
As estrelas não brilham negrume profundo
As cores inexistem
Somos as cobaias do mundo
Não há rimas como a rotina
Nem poesia como as da morfina
Que passam a dor que não vemos na retina
Deliramos nas projeções
Quanto tempo ainda temos entre os comboios
Os que se matam nos trens sem vagões?
A vida é uma trapaça
Neste jogo laboratorial
Somos a traça do jornal
Somos as crianças que
Perderam-se dos pais
Pra servir um país sem digitais
Tudo nos dão eis a cerebral incisão
As aparências pastam
Mais não enganam o ancião
Cidadão é quem paga
Impostos que deveriam ser de graça
Mostram o serviço e chega o boleto tirando sangue da caça
Chamam de sistema
O ingresso do cinema
Esta estratagema que abocanha o ovo e a gema
Conheço essa escola
Não pagou a cabeça
Rola pela degola
Juro que não existem juros
É pura ilusão
Você paga pra ver o que te tiraram da tevê seu moderno sotão
Tá tudo marcado
É um mercado negro
Pagando pro monstro mascarado
O sistema é um monstro da venda
Vive da matéria de seu chiqueiro
E somos todos filhos seus que nos alimenta
Como o nosso próprio dinheiro
Tá tudo errado
Mas seguimos assim
Há um cercado sutil sendo cultivado
E estamos dentro deste matadouro jardim
Quando voce chega perto do fim
Nem percebe que ele sempre esteve atrás de si mesmo
E que o caminho somos nós que abrimos
Como as asas que voam no Serafim que voa em círculos e a esmo
Quantas vezes sofremos calados pedindo com a concha da mão
E nos julgam com verbos atrofiados
E em genuflexão fazemos em dízimos a vascularizada oração?!
Não temos o direito de julgar
Mais padecemos por isso
Quer saber todos tomamos o chá de sumiço
A humildade é estender a mão
Ceder sem enforcar-se na corda da recordação
As vezes um olhar te mostra tantas estradas
O amor é apenas uma palavra que nem tudo revela
Que quando muito voa deixa-nos
Na imensidão do mar perdidos dentro de uma canoa sem vela...