"RASGO A PRIMAVERA"
RASGO A PRIMAVERA
(08. 10. 1985)
RASGO a primavera,
mãos florindo hastes de carne.
Tateantes verdes luzidios,
conchas entreabertas: teu olhar!
RASGO a primavera,
porque assim é necessário.
Teu jeito virou-me a página,
embaralhando minhas letras!
RASGO a primavera,
porque teu sol me queima o peito
embriagado de néon!
RASGO a primavera,
para ser apenas lembrança,
caso que não incomoda,
que não vende jornal!
RASGO a primavera,
para viver a confluência
- emoção inesperada
de um encontro casual!
RASGO a primavera,
para que tu me vejas por inteiro...
Teus próprios olhos
distantes dos olhos alheios!
RASGO a primavera,
para que agente não se corte,
quando as palavras virarem pedras
prontas para quebrar seu próprio espelho!
RASGO a primavera,
para não ser teu próprio medo,
coração carbonizado
consumido pelos desencontros!
RASGO a primavera,
para ouvir a chuva no telhado
ninar a noite quente...
Travesseiro das minhas mágoas!
RASGO a primavera,
como se realmente quisesse
ser rasgado, engolido,
devorado por ela!
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