"RASGO A PRIMAVERA"

RASGO A PRIMAVERA

(08. 10. 1985)

RASGO a primavera,

mãos florindo hastes de carne.

Tateantes verdes luzidios,

conchas entreabertas: teu olhar!

RASGO a primavera,

porque assim é necessário.

Teu jeito virou-me a página,

embaralhando minhas letras!

RASGO a primavera,

porque teu sol me queima o peito

embriagado de néon!

RASGO a primavera,

para ser apenas lembrança,

caso que não incomoda,

que não vende jornal!

RASGO a primavera,

para viver a confluência

- emoção inesperada

de um encontro casual!

RASGO a primavera,

para que tu me vejas por inteiro...

Teus próprios olhos

distantes dos olhos alheios!

RASGO a primavera,

para que agente não se corte,

quando as palavras virarem pedras

prontas para quebrar seu próprio espelho!

RASGO a primavera,

para não ser teu próprio medo,

coração carbonizado

consumido pelos desencontros!

RASGO a primavera,

para ouvir a chuva no telhado

ninar a noite quente...

Travesseiro das minhas mágoas!

RASGO a primavera,

como se realmente quisesse

ser rasgado, engolido,

devorado por ela!

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RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 05/09/2011
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