ÁRVORES EM FUGA
Psiu! Ei, Roxinho!
Chama o Cedrinho
Saia de fininho
Se não vão te serrar.
Ei, Maçaranduba,
Avisa a Cupiúba
E também a Itaúba
Querem te derrubar.
Avisa as árvores da terra
Se a máquina não emperra
A corrente da motosserra
É que vai contar a história.
Muiracoatiara, Seringueira,
Muirapiranga, Castanheira,
Louro Gamela e Cerejeira
Fujam todas para a vitória.
Meu querido Cedro Bordado
Caríssimo Angelim Rajado
Se não tomarem cuidado
Vão acabar num dicionário.
Que será da sombra do Marupá
E do gostoso leite do Amapá
E do meu Mogno o que será?
Vão transformar todos em armários?
Meu Jatobá, tão entroncado
Também tu serás derrubado
O teu lugar à lavoura será dado
E se transformará em comida.
Tanto o Ipê Amarelo como o Roxo
Também o Piquiá recebe arrocho
Com o risco de acabar como cocho
Do gado que lhe toma a guarida.
A Sucupira Preta e Vermelha
Que já viraram caibro de telha
E lá de cima, de esguelha
Observam os móveis de Andiroba
O Pau-rosa, de tão delicioso cheiro
Virou Channel no mundo inteiro
E do seu tronco altaneiro
Hoje, quase nada sobra.
Quem sabe do Mulateiro
Da Amargosa, do Sapateiro,
Do Tauari-churu ou do Loureiro?
Viraram mesa ou balcão de bar...
Coitado do Jutai-pororoca
Aos nativos servia de oca
Em nossos dias, que triste troca
Fizeram dele taco de bilhar.
A Floresta, esse ainda é seu nome
Não serviu para mitigar a fome
Mas nutrir a ganância do homem
Que sobre a morte dela fez festa.
A mata virgem, em sua imobilidade
Não pode fugir, essa é a realidade
Mesmo muda implora por piedade
Deixem em pé o que ainda resta.