ÁRVORES EM FUGA

Psiu! Ei, Roxinho!

Chama o Cedrinho

Saia de fininho

Se não vão te serrar.

Ei, Maçaranduba,

Avisa a Cupiúba

E também a Itaúba

Querem te derrubar.

Avisa as árvores da terra

Se a máquina não emperra

A corrente da motosserra

É que vai contar a história.

Muiracoatiara, Seringueira,

Muirapiranga, Castanheira,

Louro Gamela e Cerejeira

Fujam todas para a vitória.

Meu querido Cedro Bordado

Caríssimo Angelim Rajado

Se não tomarem cuidado

Vão acabar num dicionário.

Que será da sombra do Marupá

E do gostoso leite do Amapá

E do meu Mogno o que será?

Vão transformar todos em armários?

Meu Jatobá, tão entroncado

Também tu serás derrubado

O teu lugar à lavoura será dado

E se transformará em comida.

Tanto o Ipê Amarelo como o Roxo

Também o Piquiá recebe arrocho

Com o risco de acabar como cocho

Do gado que lhe toma a guarida.

A Sucupira Preta e Vermelha

Que já viraram caibro de telha

E lá de cima, de esguelha

Observam os móveis de Andiroba

O Pau-rosa, de tão delicioso cheiro

Virou Channel no mundo inteiro

E do seu tronco altaneiro

Hoje, quase nada sobra.

Quem sabe do Mulateiro

Da Amargosa, do Sapateiro,

Do Tauari-churu ou do Loureiro?

Viraram mesa ou balcão de bar...

Coitado do Jutai-pororoca

Aos nativos servia de oca

Em nossos dias, que triste troca

Fizeram dele taco de bilhar.

A Floresta, esse ainda é seu nome

Não serviu para mitigar a fome

Mas nutrir a ganância do homem

Que sobre a morte dela fez festa.

A mata virgem, em sua imobilidade

Não pode fugir, essa é a realidade

Mesmo muda implora por piedade

Deixem em pé o que ainda resta.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 04/09/2011
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