LÁ VEM O CÃO DE SAPATOS
Lá vem o sol nascendo outra vez
Mas de nada adianta o seu renascer
Se eu não despertar ao seu lado na cama,
Se eu não contemplar a sua boca com a minha
Antes mesmo de escovar os dentes,
Antes mesmo de lavar a língua
Que dormiu a noite com o teu gosto.
Lá vem o sol
E de nada adianta o seu calor
Se não lavarmos nossos corpos juntos
Para retirar o cheiro de sexo que neles ficou,
Antes mesmo de banhar o ar com perfume
Afastando o azedume das ruas sujas.
Lá vem o sol brilhando
E será tão fraca a sua luz
Se não refletir em ti,
Se não tentar roubar um pouco do teu brilho.
De nada servirá a minha voz
Se não para aclamar a tua beleza
Em versos simplórios do meu poema.
De nada servirá o gosto
Se não provar do seu corpo
Desse seu sabor viciante,
Que me deixou dependente tal qual a mais potente droga.
Lá vem o fim do dia,
Lá vem o ônibus lotado,
O amassar de corpos sem o teu ao meu lado.
Lá vem a volta do dia que não existiu
Pois a sua presença comigo não viveu hoje
E me nego a fechar o dia sem a tua suave
E indispensável companhia.