TARDES DE DOMINGO

O sol vai se pôr agora

Todos se foram embora.

Á minha volta só almas de guerras mutiladas

Já nem meus fantasmas falam comigo,

E ontem a dor foi mais fraca, eu sei.

O tempo vai sem sentido

Como andarilho perdido,

Com vestes rasgadas e alma cansada,

Condenado ao eterno Sinai*.

Enquanto tento entender o motivo do nada

Que preenche meus espaços vazios.

O dia passou arrastando as horas

Que a cada momento levam um pouco de mim. A criança perdida onde será que mora?

Será que tem os amados perto de si?

Por que foi embora e me deixou aqui?

Não quero ficar, deixa-me te seguir,

Encontrar o lindo de mim que perdi,

Reviver o puro, que nem sei se tem!

E assim não sentir mais falta de ninguém,

Pois quem tem de tudo, no fim nada tem!

E assim procurar o que eu nunca encontrei,

E assim não chorar mais por quem nunca amei.

Se quem eu amei nunca nem me falou (obrigado)

Do fundo da alma a luz me tirou.

Se ontem foi glória o que conheci,

Hoje são ruínas que levo de ti.

Domingo de tarde eu já nem sei mais,

Se um dia cavalguei em pôneis dourados.

E amanhã de tarde eu já nem sei mais,

Se hoje vivi ou se foi utopia.

Pra que cantarolar uma canção assim,

Que mostra ao mundo um pouco de mim

É tão mais fácil, como todo mundo,

Mostrar só a casca!

De que me adianta dor que não posso carregar,

Se é o que lhe apraz, minha dor vou cantar...

* Referente ao deserto do Sinai, em que os judeus andaram em círculos durante 40 anos, como castigo divino pela desobediência de Moisés, depois que fugiram do Egito e atravessaram o Mar Vermelho.

Lyah Turek
Enviado por Lyah Turek em 16/12/2006
Reeditado em 14/06/2009
Código do texto: T319912