Senhora da Noite
Não sou senhora da noite.
A noite é que é a minha senhora.
Nela é que fico sozinha, todos optam por dormir,
fico livre de explicações, de atender pedidos,
ninguém liga para reclamar, não há cobranças.
Acompanham minhas horas de liberdade as lembranças,
minhas vontades de escrever,
meu monólogo com a lua e com as estrelas.
O céu inteiro me pertence! Eu me pertenço!
Viajo nas asas leves de alguma nuvem de perdidas companheiras,
exercito minha mente, domino os pensamentos,
rejo o mar imenso em seus movimentos.
Não sou senhora da noite.
Na noite sou dona dos meus atos e das minhas soluções.
Canto se quero, ouço música se me aprouver,
escalo montes imaginários de sonhos e desejos inacessíveis.
Sou eu mesma e pertenço a quem me quer.
Ignoro outros prantos, desvendo silêncios,
tiro todas as máscaras que me obrigam a sorrir
quando tenho vontade de chorar.
Sou mais eu e, sem ser senhora da escuridão,
percorro a madrugada como se cavalgasse invisíveis crinas ao vento.
Resolvo problemas, ignoro a realidade
que sei virá chamar-me quando o dia clarear.
Mas não sou senhora da noite.
Sou mais vassala de mim mesma.
À noite transporto minha alma para que sinta aconchego
e creio que consigo fazer-me feliz.
Desdobro felicidade em meus momentos.
Não sou, porém, senhora da noite.
A noite, sim, é minha senhora.
Sou, simplesmente, súdita de um amor que está distante
e a noite, fazendo-me perto desse amor,
faz-me soberana em minha própria história. (IDA)