Como são iguais as desigualdades!
Calar o grito entre a dor e a revolta,
Deixar o silêncio absoluto como senhor,
Ranger os dentes na contração do rosto
E deixa-lo disforme, escondendo a vergonha
De ser pouco, ser pequeno, quase nada.
Pensar alto, até o céu, em orações
Em que a alma implora e não é ouvida.
Correr entre os nadas de um denso vazio
E com ele se confundir, como se tudo
Fosse tão igual a uma única existência.
Correr entre sonhos e pesadelos,
Se fazer caça de um cruel caçador
E não cobrir os rastros, como se fugir
Não fosse preciso, não fosse tentar viver,
Ou vã esperança de fazer da caça um predador,
Como se milagres acontecessem por tão simples.
Que deus pode fazer tão igual as desigualdades
Para que com elas se viva no mesmo mundo?