O que chora.
A rubra fronte humedecida por suor e lágrimas é exposta quase propositadamente pelo sol do final da tarde. Este dia seco e quente não parece querer ceder à noite que por sua vez também se demora em dar as caras. Triste fim o de ser multiplamente alvejado por canhões aleatórios e independentes. Cada qual cobrando sua cota de miséria e desprazer.
Sob o sol, o que chora não quer ser visto. Esconde-se de ninguém por trás de finas lentes negras, dentro do próprio carro. Não se suporta e pensa em morte. Pensa sem planejar, como se uma milagrosa tragédia viesse a concluir o serviço. Mais. Uma tragédia inimaginável, esplêndida, lancinante com flores de retórica.
No entanto quem fala é o silêncio. Taciturno o dia despeja as últimas horas num acontecimento tão banal quanto carregado. Nenhuma tragédia acomete o que chora.
Sem o recurso da oratória ou sequer um ouvido disposto, o que chora enxuga ruidosamente a face e, num desespero terrível, bebe e gargalha da própria miudeza insignificante.